prendinhas de natal

Tenho quase a certeza que recebi este leitor de k7 no Natal de 1994. Deu-me um jeito do caraças, foi a minha companhia na UTC e no famoso 3 da STPC para a faculdade. Lembro-me das famosas manhãs cinzentas de chuva torrencial a ouvir rádio ou o Peter Murphy enquanto passava a ponte de D. Luiz (1) ou enquanto descia a Av. da Boavista. Foi uma boa companhia enquanto foi o tempo dele. Na altura o leitor de Cd’s era pesado e eu só tinha dois compactos.
Era também uma maneira de passar o tempo na faculdade enquanto não conhecia ninguém. No fundo, lembro-me, era uma vida solitária, a acordar quase todos os dias as 7h e a deitar-me depois da 1h, um dia cheio de trabalho e sem paciência para conhecer muita gente nova. Para falar tinha o telefone a maior parte do dia. Foi se calhar por isso uma altura muito rica em imagens, à distância gostava de ter tido uma máquina fotográfica e de saber fotografar. Era o Porto cabisbaixo e sombrio que se mexia, era uma cidade ainda abandonada e eu era um jovem que estava a desmamar da pequena vila confortável onde tinha crescido.

Quatorze anos depois a P. ofereceu-me esta brincadeira pelo Natal. Lembrei-me da outra. Esta tem tudo, 20 álbuns já, com capinhas e tudo e tem 1/5 do tamanho da outra. Não tive saudades nenhumas da K7 mas achei piada pô-las juntas nem que seja por uns minutos. Agora o MP3, com as capas dos álbums, as músicas a 320kbs e com o aspecto maneiro são a minha companhia nas longas e solitárias viagens entre Coimbra e o Porto. É avassalador pensar no que em 14 anos eu e o mundo mudamos. Há 14 anos atrás queria ser jornalista e tinha uma fome danada por conhecimento. No tempo presente só quero fechar os olhos um pouco e ouvir a minha música. Mas, e por mais que queira parar, continuo em viagem para algum lado.


Nós não somos o que possuímos.
Mas ás vezes o que possuímos torna-nos um pouco mais felizes. Um bom 2009

Comentários

Pifo disse…
Domingos!

Grande post!
Lembrei-me dos idos de 93. Nessa altura nem jornalista querias ser, antes sim um 'parasita da sociedade', remember?

Um grande abraço, para um grande 2009.
Anónimo disse…
Lindo!! Fez-me lembrar a prosa do Douglas Coupland, a sério, li-a com a mesma "voz".
Um abraço e Feliz 2009
Anónimo disse…
eu sempre quis ter um gira-discosman, mas nunca consegui encontrar um!

sim, sim, isto é uma posta!
Taxi Driver disse…
Welcome to the Interzone...
BennyG disse…
A existência poderá contribuir para uma Felicidade momentãnea,mas...e se...de um momento para o outro avariasse,ou se deixasse de haver electricidade: Deixarias de ser Feliz? Aquela canção iria permanecer lá,trautearía-la mesmo que não houvesse qualquer aparelho ou mecanismo que a pudesse repercurtir.E continuarias a ser feliz,sabes porquê? Porque da mesma forma que aquela música num certo e determinado momento existencial da tua experiência de Vida te havia feito feliz, tb a recordação da mesma emergiriam todo o conjunto de sensações já experienciados! Music will always be in our heads!! Logo eu,cujo mecanismo orgânico já não suporta phones nos tímpanos!!!

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